terça-feira, 28 de julho de 2009

Amém

Pelo retrovisor enxergamos tudo ao contrário
Letras, lados, lestes
O relógio de pulso pula de uma mão para outra e na verdade... nada muda
A criança que me pediu dez centavos é um homem de idade no meu retrovisor
A menina debruçando favores toda suja
É mãe de filhos que não conhece
Vendeu-os por açúcar
Prendas de quermesse
A placa do carro da frente se inverte quando passo por ele
E nesse tráfego acelero o que posso
Acho que não ultrapasso e quando o faço nem noto
O farol fecha...
Outras flores e carros surgem em meu retrovisor
Retrovisor é passado
É de vez em quando... do meu lado
Nunca é na frente
É o segundo mais tarde... próximo... seguinte
É o que passou e muitas vezes ninguém viu
Retrovisor nos mostra o que ficou; o que partiu
O que agora só ficou no pensamento
Retrovisor é mesmice em dia de trânsito lento
Retrovisor mostra meus olhos com lembranças mal resolvidas
Mostra as ruas que escolhi... calçadas e avenidas
Deixa explícito que se vou pra frente
Coisas ficam para trás
A gente só nunca sabe... que coisas são essas .


segunda-feira, 27 de julho de 2009

Os olhos..


O dia mente a cor da noite
E o diamante, a cor dos olhos...
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente...
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente...

Os olhos mentem dia e noite a dor da gente...

Rua dos cataventos - XXXV

Quando eu morrer e no frescor de lua
Da casa nova me quedar a sós,
Deixai-me em paz na minha quieta rua...
Nada mais quero com nenhum de vós!

Quero é ficar com alguns poemas tortos
Que andei tentanto endireitar em vão...
Que lindo a Eternidade, amigos mortos,
Para as torturas lentas da Expressão!...

Eu levarei comigo as madrugadas,
Pôr-de-sóis, algum luar, asas em bando,
Mais rir das primeiras namoradas.

E um dia a morte há de fitar com espanto
Os fios de vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra do seu manto...


(Mario Quintana)

domingo, 26 de julho de 2009

Spice Girls - Wannabe - By: Thata shuahsuahsuahsuahua

HSUAHuashUAHSuashuashAUSHAu

Rua dos cataventos - XVII


Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...

E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
o mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!

Vinde, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! Desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!

Aves da noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto não se apaga nunca!

(Mario Quintana)

Rua dos cataventos - XIII


Este silêncio é feito de agonias
E de luas enormes, irreais,
Dessas que espiam pelas gradarias
Nos longos dormitórios de hospitais

De encontro à Lua, as hirtas galharias
Estão paradas como nos vitrais
E o luar decalca nas paredes frias
Misteriosas janelas fantasmais...

Ó silêncio de quando, em alto mar,
Pálida, vaga aparição lunar,
Como um sonho vem vindo essa Fragata...

Estranha Nau que não demanda os portos!
Com mastros de marfim, velas de prata,
Toda apinhada de meninos mortos...

(Mario Quintana)

A rua dos cataventos - V



Eu nada entendo da questão social.
Eu faço parte dela, simplesmente...
Eu sei apenas do meu próprio mal.
Que não é bem o mal de toda gente.

Nem é deste Planeta... Por sinal
Que o mundo se lhe mostra indiferente!
E o meu Anjo da Guarda, ele somente,
É quem lê os meus versos afinal...

E enquanto o mundo em torno se esbarronda,
Vivo regendo estranhas contradanças
No meu vago País de Trebionza...

Entre os loucos, os Mortos e as Crianças,
É lá que eu canto, numa eterna ronda,
Nossos comuns desejos e esperanças! ...

(Mário Quintana)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Quando


Quando eu quis me aproximar
Você fingiu que não me via
Quando eu fui me declarar
Você fugiu para outra esquina

Quando eu quis parar você
E quando eu fui te convencer...
Quando a minha mão firmou
Você sorriu... eu trepidava

Quando o furacão passou
A tua boca é que ventava
Se eu parasse o tempo ali
E eu não tivesse mais que ir

Você me acompanhava
E me daria a mão?
Na sua calmaria
Eu ia ser vulcão...
E quando o sol se for
E o frio me tocar
É com você que eu vou estar...

Eu não sei parar de te olhar ..

Te olho nos olhos e você reclama que te olho muito profundamente.
Desculpa...
Tudo o que vivi foi profundamente!
Eu te ensinei quem sou e você foi me tirando os espaços...
Entre os abraços me guarda apenas uma fresta.
Eu que sempre fui livre. Não importa o que os outros dissesem .
Até onde posso ir pra te resgatar?
Reclama de mim como se ouvesse a possibilidade de eu me reinventar denovo.
Desculpa se te olho profundamente, rente a pele...
A ponto de ver seus ancestrais nos seus traços...
A ponto de ver a estrada muito antes de seus passos.
Eu não vou separar as minhas vitórias dos meus fracassos.
Eu não vou renunciar a mim, nenhuma parte, nenhum pedaço do meu ser vibrantes, errante, sujo, livre, quente...
Eu quero estar viva e permanecer te olhando profundamente.